domingo, 7 de fevereiro de 2010

Rato de laboratório.

Quero um porquê pra minha existência, pras minhas noites mal dormidas, pros meus sonhos pela metade, pras minhas muitas frases não concluídas, pras minhas idéias inacabadas, pros meus ideais tão corruptíveis, pras minhas saudades do ontem, da manhã de hoje, do segundo anterior ao de agora, pra minha angustia frustrantemente constante. Quero achar meu encaixe nesse quebra-cabeça social antes que me perca sozinha e acorde no meio da noite procurando alguém que não saberei quem, antes que levante às seis, sem sono, e saia sem saber pra onde, tomando café em botecos por falta de cafeteira e vagando pelas ruas sujas dessa cidade cosmopolita. Não só quero; preciso. Preciso da outra metade aderida a mim, preciso de várias outras metades, terços, quartos... Preciso da ajuda gratuita à comunidade, preciso também da remunerada – da muito bem remunerada – pra que eu possa suprir essa carência acumulada por anos com uma penca de futilidades, de viagens e souvenires; depois dôo alguns trocados pro Criança Esperança e me sinto feliz, burguesa, cristã e realizada. Preciso também de um casamento na igreja, de um vestido branco feito sob medida, de madrinhas vestidas iguais de rosa bebê, de latinhas penduradas no carro, de uma lua-de-mel no Caribe e mais uma dúzia de pré-requisitos para se ter um casamento feliz, uma cafeteira ganhada no chá de panela e pés de meias até que a morte os separe. Esse há de ser o sentido; esse há de ser o caminho – apesar de bem diferente do idealizado nos meus tempos de marxismo – para passar ilesa pela mediocridade dessa cidade, pelo terceiro mundismo desse país, pelo egocentrismo dessa humanidade. É isso: cuspa, peça desculpas e depois afague. Na pior das hipóteses, terei um ideal; egoísta, patético, apático, mas por inteiro. E completa passarei minhas semanas batendo o cartão sem atraso, parando nos sinais vermelhos, não estacionando nas vagas especiais, dando o resto do almoço ao moleque da esquina e vendo, junto a meus dois futuros filhos gordos e precocemente diabéticos, todos os domingos no Fantástico o quão maravilhosamente feliz eu sou. Cansei de nadar contra a correnteza!

Nenhum comentário: