quarta-feira, 9 de maio de 2012

Socorro

Tenho me sentido externa a tudo que vivo. Preciso, urgentemente, integrar-me.
Entregar-me
Me integrar a mim
Me entregar a mim.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Estou amando um Homo Sapiens

... e só hoje me dei conta.

Então pensei: depois do respeito, a aceitação da humanidade do ser amado é o ponto mais importante pr’a se alcançar a plenitude no amor. Aliás, penso que ele só existe quando essa humanidade é aceita. Quando se reconhece no outro a fragilidade e fraqueza que também tem dentro de você. Ou não. Mas que, só por compor o amado, também te faz parte. E ninguém quer repudiar a si mesmo. Se aceita. Compreende-se. Ama-se. Andei pensando também que nos apaixonamos por príncipes e princesas, mas talvez só se possa dizer que alcançamos o amor quando enxergamos a criatura falível. Daí damos uma tapinha em suas costas, encostamos sua cabeça em nosso ombro e seguimos a estrada dizendo que tá tudo bem, tá tudo bem.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Para uma flor da estrada.

Preciso pôr em palavras o que to sentindo! Mais fácil seria expor pelo toque, olhar, silêncio, mas espero que algumas linhas deem conta de passar todo sentimento bom que quero, hoje, te transmitir - que quero trocar contigo. To sentindo a necessidade de te falar, menina, falar qualquer coisa, manter contato, manter o elo pra que tu não te percas em terras desconhecidas, pra que a gente não se perca, pra que nada nada nada seja perdido. Todo lugar que vejo tenho vontade de te levar comigo, todo livro que tenho lido grifo frases pra que depois, um dia quem sabe, tu leias, toda música que ouço espero o momento de te mostrar. Ontem passei por um bistrô novo no centro da cidade, o clima barroco meio rêtro meio prafrentex quase me fez te enxergar sentada na mesinha do canto, iluminada por uma vela já derretida. Tenho essa urgência de dividir tudo de bonito que encontro pra que tudo isso seja nosso também: o lugar, o livro, a música, o bistrô.

Ao menos ainda me resta a esperança de um dia ainda dividir isso contigo, e um baú empoeirado pra guardar todas essas possíveis pecinhas da nossa história interrompida por quilômetros de águas oceânicas!

domingo, 21 de novembro de 2010

In

Ando tão dentro de mim mesma que quando olho pra fora me sinto cada vez mais estrangeira.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lá vem ele!

Depois de passarem madrugadas de sextas, sábados, feriados, fim de ano esperando, foi no meio de uma madrugada de terça-feira de agosto que arrancaram repentinamente a crosta de proteção – proteção contra qualquer coisa que não houvera sido minuciosamente planejada – e soltaram, como quem liberta borboletas presas desde sempre, uma palavra de amor. É! A-mor! Pela primeira vez pareciam atentar pra existência de algo além da carne, além daquele desejo louco de ficarem grudados, assim, pra sempre, além da afeição pela projeção perfeita de antes, além do carinho pela realidade terna de agora, além dele, além dela, além de qualquer coisa passível de sentido. Pela primeira vez, também, percebiam que amar não fazia sentido algum.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

metacorpóreo

A pele nos atenta para o fim de um e o começo do outro – a epiderme delimita-nos. O toque nos dá a prova empírica da impossibilidade de incorporar-se ao ser amado. E ficamos, assim, tocando-nos superficialmente, amando-nos superficialmente, emaranhando-nos superficialmente na tentativa de qualquer junção no fundo, na alma, no coração, ou em qualquer coisa que transpasse essa derme, essa epiderme, esses pelos, esse tecido...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Tinha uma poça no meio do caminho

Primeiro a gente vê a poça. A gente analisa a dimensão da poça, calcula se a perna é suficientemente comprida pra chegar até a outra beira. Até o outro lado da mesma beira de ontem, de anteontem... A poça, assim como o poço, assim como a fossa, só tem essa interminável beira que sempre leva pro mesmo canto, p'ros mesmos lados.


Depois do primeiro pé levantado a gente aceita a possibilidade de cair na poça. A gente supõe que seja impossível se afogar numa pocinha. Ali, extensa e rasa no meio da rua cheia de outras poças menores e maiores e sozinhas nas suas condições de poças. No máximo a gente se contamina com a poça, com a água de chuva da poça. A gente se contamina é com a chuva. A chuva que deixou de cair em cima da gente pra cair na poça e descontar sua solidão de água de chuva isolada numa poça contaminando o pé que a julgou saltável. Mas nunca se sabe, até a perceber não saltável, o que a poça guarda embaixo daquela película de água de chuva que deixou de cair na gente pra formar aquele pequeno universo. A gente também tem um pouco de culpa das poças serem formadas e existirem e nos surpreenderem na rua do lado.


Depois do inverno são só elas que nos restam. Às vezes até tentadoras, refletindo uma rua que, estranhamente, parece mais bonita do lado de dentro da poça. Mas a gente tem que lembrar da água ressentida de chuva que a formou, tem que lembrar que poças nem sempre são saltáveis, ou tem que aceitar e pronto.


Meter o pé e ser um pouco de poça também, ser um pouco da água ressentida e isolada de chuva. Mesmo que mergulhe, mesmo que se afogue, mesmo que tenha que beber toda água da chuva pra achar a beira de sempre de novo. Levantar a primeira perna e aceitar o desconhecido da poça, aceitar o limite de água calma que separa o firme da rua, do duvidoso de dentro.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

with sense

A impossibilidade de impedir que uma perigosa afeição nasça me intimida. Chega de garrafas de vinho português, de meia-luz, de encontros casuais, de última sessão, de me envolver com essa tua voz mansa de quem não tem pressa! Só quero me envolver se me assegurares que eu me terei de volta caso as garrafas de vinho acabem, caso a luz me encandeie, caso haja desencontros ou a última sessão pareça tarde demais para se expor ao sereno da madrugada fria. Vai! Foge pra Zurique, Istambul, Budapeste, ou qualquer lugar que quando pensemos não nos remeta nada de marcante, nada de especial, nada de nós, nada do que passou, nada do que poderia ter passado. Só não fica aí com essa cara de quem pode me ferir, de quem tem muita energia condensada e que está disposto a me esfacelar gradualmente, de mansinho, que nem essa voz. Vai e libera esse fogo em tudo lindo que tu encontrares, me afasta dessa tentação. Mas me escreve. Promete escrever? Não, não precisa escrever se não tiveres o que dizer. Não quero te forçar a nada, requer intimidade demais, mas me manda fotos. Foto de qualquer coisa, não precisa ter sentido, o sentido está além, ele é tu, éramos nós – seríamos nós – é tu estar em qualquer lugar que não me remeta nada e mandar uma fotografia. Não precisa prometer voltar – não precisa nem voltar. Assim tua taça permanece aqui, sempre cheia.

domingo, 12 de setembro de 2010

Penso, com o desconforto de quem não consegue se acomodar na cama, que ter o mundo inteiro dentro de mim tem me feito grande demais pra'o mundo.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

"O desejo é um tempo parado"

Esse sol deixa a gente assim mais mole, assim mais lenta, assim derretida, assim mais nua, assim se deixando escorrer em encontros casuais de fim de tarde, de começo de noite, de meio da madrugada, de dia inteiro, de mais de uma vida. Deixa um abafado que me obriga a tirar camada por camada, a arrancar a carapaça, rasgar esse tecido de linho que ainda recobre minha pele e meus ossos e meu coração que parece bater mais e mais e mais depressa. Teu corpo no meu sob essa bola de fogo escaldante – a gente sendo a própria bola de fogo, imunes a qualquer queimadura porque a chama não arde se formos brasa também. Pingando, pingando, pingando, devagarzinho... Transformando-se em uma calda homogênea que quase não dá pra saber o que, minutos antes, era meu ou teu. Pouco importa.