sexta-feira, 17 de setembro de 2010

with sense

A impossibilidade de impedir que uma perigosa afeição nasça me intimida. Chega de garrafas de vinho português, de meia-luz, de encontros casuais, de última sessão, de me envolver com essa tua voz mansa de quem não tem pressa! Só quero me envolver se me assegurares que eu me terei de volta caso as garrafas de vinho acabem, caso a luz me encandeie, caso haja desencontros ou a última sessão pareça tarde demais para se expor ao sereno da madrugada fria. Vai! Foge pra Zurique, Istambul, Budapeste, ou qualquer lugar que quando pensemos não nos remeta nada de marcante, nada de especial, nada de nós, nada do que passou, nada do que poderia ter passado. Só não fica aí com essa cara de quem pode me ferir, de quem tem muita energia condensada e que está disposto a me esfacelar gradualmente, de mansinho, que nem essa voz. Vai e libera esse fogo em tudo lindo que tu encontrares, me afasta dessa tentação. Mas me escreve. Promete escrever? Não, não precisa escrever se não tiveres o que dizer. Não quero te forçar a nada, requer intimidade demais, mas me manda fotos. Foto de qualquer coisa, não precisa ter sentido, o sentido está além, ele é tu, éramos nós – seríamos nós – é tu estar em qualquer lugar que não me remeta nada e mandar uma fotografia. Não precisa prometer voltar – não precisa nem voltar. Assim tua taça permanece aqui, sempre cheia.

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